terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O dom da imaginação

Você já chegou a pensar que temos imaginação, que nossa mente humana é capaz de criar seu próprio universo interno, para que possamos aliviar nosso sofrimento? Quem sabe em algum ponto da evolução a natureza viu que seria dureza para os seres humanos carregar seus sentimentos e não poder fugir deles em algum momento. A sábia mãe natureza arquitetou uma maneira de nós podermos ficar longe de sentimentos para que eles não acabassem com a nossa sanidade. Seria uma maneira de balancear as coisas, de não deixar um lado pesar mais que o outro. Surge então o equilíbrio, não o equilíbrio perfeito, mas um equilíbrio bem intencionado. Temos que dar o braço a torcer para a mãe-natureza. Quando adentramos o campo minado das emoções, há um lugarzinho onde podemos nos abrigar de forma segura e confortável. Deite-se aí e tenha um bom sono.

Acho que a natureza previu também que alguns espécimes de ser humano não seriam fortes o bastante para lidar com o mundo do jeito que ele é. Alguns seriam mais sensíveis às verdades desagradáveis que proliferam pelo mundo e precisariam de um escudo, um anteparo, para não pegar uma avalanche delas todas de uma vez. E voilá! Eis que a imaginação e o devaneio surgem em cena para ajudar os pobres-diabos.

Por que os animais não têm imaginação? Porque não precisam lidar com as estranhezas do mundo, não precisam refletir sobre elas, não são afetados por elas. Pra que se refugiar em algum lugar se você não tem do que fugir? Eles são guiados pelo instinto e o instinto torna tudo relativamente mais fácil. E se o ser humano agisse assim? Então, nada seria tão complicado. Bastou adquirir a incrível capacidade de pensar para tudo se tornar complicado. Há um sentido em tudo isso? Há um sentido em tudo o que acontece no mundo? Aonde tudo isso nos leva? Se não há sentido, então, ah, meu Deus, milhões, talvez bilhões de pessoas, vão se entristecer. Pois bastou adquirir a incrível capacidade de pensar para ficar deprimido quando nada parece ter razão de ser.


...

Texto doidão, né? Mais reflexivo impossível. Mas não se preocupem, pessoas, eu não vou me matar, hehe. Até a vista.


quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Uma certa solidão

Você já se sentiu sozinho?
Não sozinho de não ter ninguém em casa além de você
Não sozinho de olhar para os lados e ver que seus amigos já se foram
Não sozinho de defender uma causa sem o apoio das outras pessoas
A solidão de que eu falo pode atingi-lo quando você estiver num estádio de futebol
cercado de gente
Pode abraçá-lo quando se encontrar numa platéia cheia de espectadores
Pode acompanhá-lo quando você andar no meio de uma multidão
A solidão a que me refiro é causada pela ausência de uma única pessoa,
a pessoa que você mais gostaria de ter ao seu lado,
dona do sorriso que você daria tudo para ver e apreciar
A presença dela ofusca todas as outras,
a sua voz é a melhor música jamais tocada,
o seu cheiro torna o mundo um lugar agradável
Sem ela, onde está a graça de sorrir?
Onde está a razão para parecer alegre?
Sem ela, o riso dos outros parece sem sentido,
e a felicidade vira algo difícil de se alcançar
Com ela, o sorriso aflora a cada instante,
as cores do mundo se reavivam
e os problemas fazem de conta que nem existem
Outras coisas misteriosas e inexplicáveis acontecem
quando ela está por perto,
todas elas se juntando e combinando
para criar uma notável sensação de prazer
Então, falando sério cá entre nós:
por causa de uma pessoa dessas,
você já se sentiu sozinho?

Distrações

Um homem entrou numa papelaria para comprar algo de que estava precisando. Como o lugar estava cheio, foi difícil para ele arranjar um espaço no balcão. Uma vez tendo conseguido, demorou uns dois minutos para que uma bonita funcionária, exibindo um sorriso simpático, viesse atendê-lo, dizendo:
- Sim, o que deseja?
O homem ficou tão deslumbrado com a moça que esqueceu de falar. Manteve-se quieto, admirando a perfeita pele morena dela, o rosto bem feito e o longo cabelo suavemente ondulado. Ainda havia a boca sorrindo, o nariz elegante e os olhos castanho-claros, que, juntos, formavam um todo muito atraente. Pareceu difícil ao homem concentrar-se em outra coisa que não fosse a beleza daquele rosto.
- Sim, o que deseja? - insistiu a funcionária diante da falta de resposta.
- Eu quero um... - subitamente ele esqueceu o que queria. Tentou lembrar, mas foi inútil - ...um...um...
- Um...?
- Um...é... - forçou a memória, esfregando os dedos na testa. Começava a se sentir um idiota por se encontrar numa situação daquelas. Havia ficado encantado com a beleza da moça a ponto de esquecer do que precisava. O pior de tudo era que não surgia nem uma vaga lembrança do que viera comprar. - Eu quero um...um...
- Lápis? - sugeriu ela, tentando ajudar.
- Não, não é isso - disse ele, pensando que um lápis só serviria para escrever uma poesia exaltando a beleza dela.
- Então, o senhor quer um caderno?
- Não...também não é isso - respondeu ele, pensando que um caderno só lhe seria útil para ter onde escrever a poesia.
- Que tal um... - ela olhou em volta - estojo?
- Não, ainda não é isso.
- Um apontador?
- Não...
- Um envelope de carta?
- Não...
- Um pincel?
- Não...
- Um vidro de cola?
- Não...
- Um cartão de aniversário?
- Não...
A moça já começava a ficar impaciente. O homem, por sua vez, apesar de estar fazendo papel de bobo, até que estava gostando daquilo; quanto mais tempo demorasse para se lembrar, mais tempo ficava contemplando o bonito rosto dela. Quando já se preparava para ouvir outra sugestão, viu que a moça mudou de idéia. Em vez de dirigir-se a ele, chamou outra funcionária e pediu para esta ajudá-lo, enquanto ela própria ia atender outras pessoas que chegavam. Foi uma decepção para o homem vê-la se afastando.
- O que quê o senhor deseja?
Essa outra funcionária era quase o inverso da anterior. No que a outra tinha de bonito, ela tinha de feio. Seu rosto era estranho, seu nariz era torto e sua boca parecia uma boca de palhaço, tamanha a quantidade de batom vermelho nos lábios e até em volta deles. Difícil imaginar como a papelaria havia contratado aquela mulher, que no momento piscava um tanto lisonjeada, ao se perceber examinada pelo homem. Ele, um tanto aborrecido por ter sido deixado pela bonita, afastou-se ligeiramente do balcão.
- Uma espada - disse, pensando em São Jorge.
- Como?!
- Ah, eu quis dizer grampeador.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Frase do dia (que coisa mais Ana Maria Braga, né...)

É incrível como um erro se sobrepõe a vários acertos.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O primeiro do ano a gente nunca esquece

E aí, pessoal, beleza? Primeira postagem de 2009 com treze dias de atraso. Antes tarde do que nunca. Desculpe por deixá-los na mão (isso se realmente houver alguém acompanhando o blog), mas não se preocupem porque estarei mais presente. Vamos ser sociáveis e perguntar: como foi a virada de ano? Tudo tranquilo? Esperando coisas boas de 2009? Pois é, eu também, apesar de que muitas coisas boas ficaram em 2008 e eu não soube aproveitar. Mas não chorem por mim. Leiam esse texto que está aí embaixo e sorriam. Uma boa notícia: esse tem fim.

...

Paulo explicou como torcera o pulso da mão esquerda no banheiro: a toalha de banho estava no chão; acidentalmente, ele enroscara os pés nela, se desequilibrara e ao cair apoiara a mão de mau jeito na borda da privada. Todos duvidaram dele.
Seu irmão mais velho:
- Que conversa pra boi dormir! Por que você não fala logo que mandou ver com muita força?
Seu pai:
- Não sabia que a gíria hoje em dia era essa.
O médico que examinou o pulso:
- Ah, claro. Mas cá entre nós, vai devagar na próxima, rapaz! Lembre-se que você tem outra mão.
Seu melhor amigo:
- É triste ver quando as pessoas tentam omitir a violência dos seus atos.
O professor de educação física:
- Desculpa esfarrapada. É nisso que dá praticar certos esportes individuais.
E Paulo ainda teve que ouvir coisas do tipo:
- O negócio aí foi intenso, hein?
- Olha o que acontece quando a pessoa põe muita força na vontade?
- Aí está o cara que não descansa na hora de soltar pipa.
Logo procuraram arranjar-lhe um apelido. Ficaram entre "o feroz" e "o selvagem", mas no final das contas preferiram chamá-lo pelas duas coisas. Suas amigas passaram a olhá-lo de um jeito estranho, curioso. Até sua mãe começou a olhá-lo assim e ele sentiu que às vezes ela ficava vigiando-o.
Uma tremenda indignação tomava conta dele. Por que as pessoas eram tão maliciosas? Será que as coisas melhorariam se ele explicasse que, antes de mais nada, a toalha caíra no chão porque ele sentira o que pensara que fosse uma aranha passeando pelo seu corpo? Não. Era melhor ficar quieto quanto a isso. Se ele incluísse "aranha" na história, só Deus sabia onde aquilo tudo ia parar.