segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A cidade e os velhos

Não sei se é um bom texto pra começar, mas depois eu falo mais de mim.

Beleza?


Ele reparava agora, a cidade havia mudado. Prédios haviam caído, prédios haviam sido levantados, prédios envelheceram. De alguma forma, os prédios eram como as pessoas; quanto mais idosos, mais frágeis ficavam. As paredes descascavam, perdiam a cor, a estrutura ficava fraca, o interior se deteriorava...E por falar em idosos, e aqueles senhores sentados nos bancos do centro da cidade? Haviam envelhecido junto com ela, acompanharam suas mudanças. Devem ter visto muita coisa em suas vidas.

Olhava para esses idosos, que levantavam com os lábios toda uma vida ao sorrir.. Cabelos brancos; rostos enrugados, postura encurvada. São curiosas essas pessoas e era difícil não ser acometido por uma série de perguntas ao olhar para elas: Ao que eles se prendem? À vida atual ou à vida de antigamente? Qual será seu processo de pensamento? Como os pensamentos se formulam dentro de suas cabeças? Teriam eles dificuldades em se adaptar aos novos tempos? Estariam eles a anos-luz de compreender o mundo atual? Estaria a mente deles formulando pensamentos de outrora?

Apertem F5 para atualizar suas mentes, senhores!

As perguntas eram tantas que, na tentativa de olhar esse mundo estranho através dos olhos deles, ele se deu conta de que o mundo também estava ficando estranho para ele. Ele também vivia falando coisas do tipo "No meu tempo...".

Por alguma razão, nossa mente fixa residência num determinado momento da história e todas as mudanças que ocorrem dali em diante parecem transformar nosso lar doce lar. Lembramos que o mundo era de um jeito e agora está diferente. Nos agarramos à idéia de que certa época nos pertenceu, de que entendíamos tudo, de que tudo era familiar e não havia coisas estranhas.

Por que não fixar residência no mundo atual e abandonar o lar de outrora? Ou melhor, que tal não se estabelecer em lugar algum e pensar no mundo de uma maneira cigana, nômade? Que tal ser apenas um viajante nas transformações do mundo, sem estabelecer um ponto a partir do qual as coisas mudaram? Se nos desgarrarmos desse ponto, será muito mais fácil aceitar e conviver com as mudanças. Não teremos nenhum referencial, não nos preocuparemos com o que restou e nem com o que foi embora, pois todas as épocas serão nossas. Tudo nelas seria familiar. Não haveria comparação, porque vários seriam os nossos lares e nos concentraríamos em deixá-los agradáveis, não em reclamar. Sem amarras, sem grilhões, sem algemas. Fazer com que os vários momentos da história se tornem nosso lar.

Ele olhou para os idosos sob a luz daquele novo pensamento. Esse tempo atual era tão deles quanto seu. Essa cidade, esse mundo... Sorriu e uma idéia maluca surgiu na sua cabeça. A de ir até eles e dizer que todos, inclusive ele, haviam acabado de mudar de lar.

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